O que é que nos define como pessoa? Quanto do mapa determina nossa personalidade, nosso futuro? Sempre que vejo um filme baseado em fatos reais, que conta a historia de alguém que superou suas dificuldades pessoais, dificuldades impostas pela vida, e que transformou a sua própria história, busco o mapa dessa pessoa na internet. Dificilmente encontro a hora de nascimento desses personagens históricos, mas dia, mês, ano e lugar estão disponíveis a maioria das vezes. E os exemplos não são poucos: Wladyslaw Szpilman, de O Pianista; John Nash, de Uma Mente Brilhante; Chris Gardner, de Em Busca da Felicidade; ou Nelson Mandela de Invictus, são pessoas que superaram suas próprias limitações ou dificuldades que lhes foram impostas pela vida, e construíram sua própria história, algumas vezes com os recursos que tinham disponíveis, outras sem nenhum recurso, criando-os. Busco similitudes entre estes mapas, trato de encontrar padrões, e a única coisa que encontro são pessoas de diferentes signos, com diferentes planetas em evidência no mapa (seja por estarem bem situados ou tão mal situados que chamam a atenção), e nenhum padrão. Então, de que forma o mapa determina o que somos e o que fazemos de nossas vidas?
Não é incomum escutarmos de clientes que seus mapas são muito difíceis e que, por isso, sentem suas vidas prejudicadas. Geralmente se referem a mapas com muitas quadraturas ou oposições. As quadraturas (distância de 90 graus entre planetas) costumam se manifestar como dificuldades externas, da própria vida, impostas ao sujeito. São obstáculos, frustrações que a pessoa tem que enfrentar. A nível psicológico, são energias dissonantes, dificeis de serem integradas: ou funciona uma coisa, ou outra. Falta o equilíbrio. A oposição (distância de 180 graus entre planetas), por sua vez, costuma indicar não somente um mal uso da energia dos planetas envolvidos, como também pode ser difícil para o proprio indivíduo reconhecê-la como sua: costuma ser projetada. “as pessoas com quem me relaciono sempre atuam assim”, ou “são assim comigo”. Os dois planetas “falam” igualmente alto, muitas vezes ao mesmo tempo, e a pessoa vive isso no conflito com outros, de maneira que lhe é difícil integrar aquela energia como parte da sua personalidade. Pode falhar o sentido de auto-responsabilidade do indivíduo naquele conflito. Os trígonos (distância de 120 graus entre planetas) são geralmente invejados: “que fácil é a vida das pessoas que nascem cheias de trigonos!”, é a frase mais comumente escutada em relação a esses aspectos.
Só que, na prática, o que vemos nao é isso. Pessoas com o mapa cheio de trígonos não necessariamente funcionam psicológica e socialmente melhor que aquelas com o mapa cheio de quadraturas e oposições: elas apenas não se incomodam com a maneira como funcionam, e logo, não sentem a necessidade de mudar. Se bem é verdade que suas vidas podem ser cheias de supostas facilidades, tais facilidades podem terminar desperdiçadas se a pessoa nunca foi obrigada, por exemplo, a lutar para obter aquilo que tem na vida.
Como seres humanos, só o conflito nos impulsiona a mudar. São nos tropeções que nos tornamos maiores e melhores. Precisamos sentir-nos incomodados para buscar uma saída, assumir uma postura, definir uma forma de ser, para buscar algo mais. Em Psicologia dizemos que o que nos move é o desejo por aquilo que não temos, por aquilo que nos falta. No mapa, identificamos nos aspectos desarmônicos a falta e, consequentemente, o desejo, enquanto os aspectos harmônicos indicam ausência de desejo, porque ali, geralmente, não há falta. Se bem é verdade que os aspectos desarmônicos indicam tensão, é igualmente verdadeiro que necessitamos uma certa quantidade de tensão para viver.
Se é que é possível encontrar um padrão nos mapas de pessoas que se superaram, nos mapas dos “vitoriosos da vida”, eu diria que o único padrão que encontrei foram as limitações, as imposições externas e internas que fizeram com que tais pessoas buscassem uma solução alternativa, ou um caminho opcional, e não deixaram que elas se acomodassem naquilo que deveriam aceitar ou ser. São mapas com muitos aspectos desarmônicos que foram bem utilizados, porque para alcançar o sucesso, é necessário uma boa dose de desejo por alguma coisa. E foi esse desejo, essa insatisfação, que os moveram e fizeram com que eles lutassem por mais.
Apenas para dar um exemplo entre tantos, Nelson Mandela, promotor de uma importante transformação na África do Sul, apresenta um mapa com Urano em Aquário (domiciliado por signo), porém retrógrado. Podemos, a primeira vista, olhar para um mapa com Urano retrógrado e pensar que aquela pessoa, por seu intenso desejo de liberdade pessoal, poderia querer dominar outros. E poderia, já que esse é um dos muitos significados possíveis para Urano retrogrado. Apesar disso, creio que ainda não conhecemos na história alguém que tenha lutado mais pela liberdade individual de sua nação como Nelson Mandela. Ele não só nunca se sentiu restrito em sua liberdade, como lutou pelo direito ao diferente e pela liberdade de todos, igualmente. E isso nos dá um exemplo claro de que não estamos determinados pelo mapa, nem mesmo pela simbologia dos signos.
Os exemplos para estudo são muitos, e os mapas muito interessantes, mas o objetivo desta nota não é discorrer sobre os mapas dessas pessoas, senão perguntar de que maneira e até onde o nosso mapa nos define? O que é que nos torna o que somos? Que poder de decisão tem o mapa sobre a nossa personalidade, sobre aquilo que somos e aquilo que podemos ser?
Em Biología se diz que nós, seres humanos, temos uma base, um “a partir de onde”, mas não temos um teto, um “até onde”, no que diz respeito ao que podemos ser (aquí resguardamos, obviamente, os problemas mentais e as falhas genéticas). Sabemos, ainda, que somos resultado de nossas experiências. Se bem a carga genética de cada um é importante, o que desta carga será desenvolvido e o que permanecerá latente, será definido pela experiência de cada um. Daí que nem os gêmeos idênticos são idênticos em suas personalidades. Atualmente se sabe, inclusive, que o cerebro é um órgão que se adapta a experiencia, vai se formando segundo o que vivemos, ativando algumas partes, desativando gradualmente outras. Respondemos a nossa experiencia.
Então, pensemos no mapa como um conjunto de possibilidades. Cada planeta em cada signo, em cada casa, cada aspecto, indica uma tendencia, um conjunto de possibilidades, que podemos viver no nível mais baixo ou no nível mais elevado, segundo nosso desejo e esforços. Não pensemos em limitação de capacidades; pensemos em construção de possibilidades. Recebemos do cosmos uma maneira de reagir ante a dor alheia, que (se indicada por uma lua em peixes no mapa) pode ser vivida desde o compadecimento seguido por uma ação construtiva para minimizar tal dor, até a identificação absoluta com a dor do outro que nos paralisa e impede de agir. Como queremos viver nosso mapa?
Como na Biologia, o mapa é um conjunto de possibilidades que nos é dado, com uma base, sem um teto. Conheçamos nosso mapa e definamos como queremos vivê-lo.
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